Geral | Da Redação/Com Midiamax | 22/03/2012 10h34

Governo gasta R$ 6,3 mi com comunicação em fevereiro e nega escolha política de jornais

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Somente no último mês de fevereiro, mais de R$ 6,3 milhões deixaram os cofres de Mato Grosso do Sul para bancar gastos do Governo Estadual com comunicação. A fortuna é usada para pagar material de propaganda e veículos de comunicação como jornais, websites, rádios e emissoras de televisão que transmitem mensagens de interesse do poder público sul-mato-grossense.

Apesar de listadas no Portal da Transparência como “outros serviços de terceiros – pessoas jurídicas”, as notas de empenho apontam apenas as agências de publicidade que gerenciam as verbas publicitárias do Governo.

Não há detalhamento sobre, por exemplo, quais websites de notícias recebem dinheiro do poder público estadual. Nem quanto recebe cada um dos órgãos de imprensa. Entre os empresários de comunicação, principalmente os pequenos, há questionamentos sobre os critérios para escolher quem ‘entra na lista’.

Donos de jornais em municípios do interior de MS, por exemplo, dizem que receber mídia do Governo estaria sempre condicionada ao ‘bom comportamento’ dos órgãos de imprensa com relação ao governador André Puccinelli.

“Na verdade ninguém tem nada certo. Se você publicar alguma coisa que não vai agradar, corre o risco de ser cortado sim. Não adianta falarem que não, e a gente nem tem como provar. Mas, se pegar quem tá mamando, pode ver que são só amiguinhos. Nenhum fala mal do governador. Isso é até meio óbvio”, revela um empresário que pediu não ser identificado justamente para evitar as supostas represálias.

O Governo nega a prática.

“O único critério utilizado é o técnico. Eu respeito a opinião de quem reclama, mas nem posso comentar. A única coisa que posso garantir é que todos os investimentos em comunicação do Governo Estadual são definidos com base em critérios técnicos”, insiste o subsecretário de comunicação do Estado, Guilherme Filho.

Segundo ele, os gastos milionários listados pelo Portal da Transparência nas aplicações diretas da Secretaria de Estado de Governo não representam tudo que o poder público estadual usa com comunicação.

“Cada gasto feito por cada um dos órgãos é listado no orçamento próprio. A secretaria de Governo centraliza, mas não é exclusivo. Pode ter gasto direto pela Saúde também, por exemplo. Como não há uma secretaria de comunicação, não há um orçamento específico”, explica.

Com relação ao volume, que somente em fevereiro dá uma média de mais de R$ 200 mil por dia, o subsecretário diz que não há ‘novidade’. “Não existe aumento nem diminuição nesses valores. O gasto é o mesmo há quatro anos. Isso é um valor fechado e licitado. O que existe é o fluxo. O fluxo pode variar de um mês para o outro”, conta.

'Farra de sitezinhos'

Em Mato Grosso do Sul, o perfil dos investimentos do Governo Estadual interfere diretamente no perfil da mídia sul-mato-grossense. Um empresário que publicou durante décadas um jornal impresso no interior do Estado conta que agora migrou para a internet para reduzir os custos.

“Hoje em dia tanto faz se você tem um jornal ou um site. E se não preciso gastar com gráfica, é claro que vou cortar esse gasto mesmo”, explica.

Sobre o valor que recebe mensalmente do Governo, o empresário faz mistério. “Se eu falo o valor, podem até descobrir qual é o meu jornal. Mas não é nenhuma fortuna não. Não chega a cinco mil. Eu sei que tem gente ganhando dez vezes o meu valor. Eles mandam um banner ai por mês e nem adianta reclamar”, conta.

Um banner é um anúncio para ser exibido em websites da internet.

“O que todo mundo sabe que anda acontecendo é uma verdadeira farra de sitezinhos pipocando para grudar nas tetas do governo. A gente ouve que tem muito site aí que já nasce com políticos como padrinhos, ou parentes de gente do Governo, ganhando fortunas maiores do que muito jornal sério mais antigo”, denuncia.

Maioria atendida

Para o diretor administrativo da Remat Marketing & Propaganda, Eduardo Crivelente, o que aconteceu no mercado local foi uma ‘adequação aos critérios técnicos’ e a reclamação não procede.

“A grande maioria dos veículos de comunicação do Estado são atendidos”, afirma.

A Remat é uma das agências de publicidade que dividem as contas do Governo Estadual e gerenciou, somente em fevereiro, R$ 1.281.265,68.

“Desse montante, a agência fica com algo em torno de 15 e 17% brutos, que é a remuneração pelo nosso trabalho. As agências não disponibilizam dinheiro público para ninguém. Nós apenas orientamos os clientes sobre como utilizar os recursos”, explica.

No entanto, sobre a reclamação de suposto direcionamento político do processo de escolha sobre quais órgãos de imprensa recebem ou não investimentos do Governo Estadual, Crivelente diz que a responsabilidade da escolha é do cliente.

“O critério é técnico, e é do cliente. Nós seguimos métricas usadas pelo mercado para medir a visibilidade, mas essa decisão é formada pela necessidade do cliente junto à aceitação do veículo”, diz.

Para Eduardo, boa parte das reclamações dos veículos se refere ao fato de que, com critérios mais rígidos, muitos acabam impossibilitados de prestar serviços para o poder público. “Aquela prática paternalista do político que falava ‘ajuda ele aí’ e depois eu dou jeito, isso acabou. Cada contratação precisa ter comprovada a prestação do serviço contratado. As empresas precisam ter documentos em dia, garantir visibilidade”, afirma.

No entanto, questionado sobre quais veículos de comunicação recebem os maiores volumes do dinheiro do Governo de MS, o publicitário desconversa. “Não tenho como dizer isso. Qual veículo ganha mais é uma informação pertinente à relação entre a agência e o cliente. Seria como eu ir aí te perguntar como você faz o seu trabalho”.

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